Igreja
Sumário
O Início no Novo Testamento
Para compreender a origem da Igreja, voltemos ao Novo Testamento, especificamente ao Livro de Atos e ao nascimento da Igreja no Pentecostes. Naquele dia, o Espírito Santo desceu sobre os doze apóstolos no Cenáculo, e, à tarde, cerca de 3.000 pessoas creram em Cristo e foram batizadas. As Escrituras registram que a primeira comunidade cristã “se dedicava constantemente ao ensino dos apóstolos, à comunhão, ao partir do pão e às orações” (Atos 2:42).
De Jerusalém, a fé em Cristo se espalhou por toda a Judeia, Samaria (Atos 8:5-39), Antioquia e os gentios (Atos 11:19-26). Novas igrejas e convertidos surgiram na Ásia Menor e no Império Romano, conforme descrito em Atos e nas Epístolas. A Igreja não era apenas uma instituição na sociedade romana; Jesus Cristo prometeu o Espírito Santo “para vos guiar a toda a verdade” (João 16:13). Com o cumprimento dessa promessa no Pentecostes, a Igreja nasceu como um organismo vivo, o Corpo de Cristo, descrito por São Paulo como “morada de Deus no Espírito” (Efésios 2:22). Ela não era uma instituição com mistério, mas um mistério com organização, deixando um impacto indelével no mundo e transformando seus membros.
Apesar disso, o Novo Testamento também registra problemas. Alguns tentaram desviar a Igreja do caminho apostólico, exigindo confronto. Comunidades locais, como a de Laodiceia (Apocalipse 3:14-22), caíram em erro e foram chamadas ao arrependimento. A disciplina visava a pureza, e o Espírito Santo concedeu poder para correção, permitindo que a Igreja crescesse e permeasse o Império Romano.
Os Primeiros Séculos
Conforme a Igreja avançava do Novo Testamento para os séculos seguintes, seu desenvolvimento pode ser analisado em três categorias: doutrina, culto e governo.
Doutrina
A Igreja começou sob o ensino dos apóstolos e foi instruída a “permanecer firme e reter as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa” (2 Tessalonicenses 2:15). Paulo enfatizou que as doutrinas apostólicas, transmitidas oralmente ou por escrito, deveriam ser seguidas. Advertências como “apartai-vos de todo irmão que anda desordenadamente e não segundo a tradição que recebeu de nós” (2 Tessalonicenses 3:6) reforçavam essa fidelidade. A Igreja, “coluna e baluarte da verdade” (1 Timóteo 3:15), protegia essas doutrinas.
No primeiro século, uma disputa em Antioquia sobre as leis do Antigo Testamento levou ao Concílio de Jerusalém (Atos 15:1-35), onde apóstolos e presbíteros decidiram a questão, estabelecendo o padrão para concílios eclesiásticos. Nos primeiros trezentos anos, heresias como Gnosticismo, Montanismo e Sabelianismo surgiram, mas foram confrontadas. No quarto século, Ário negou a eternidade do Filho, causando grande turbulência. O Concílio de Niceia (325 d.C.), com 318 bispos, rejeitou essa heresia, afirmando a consubstancialidade do Filho com o Pai. Até 787, sete concílios ecumênicos, realizados em Niceia, Éfeso, Calcedônia e Constantinopla, defenderam a fé apostólica, formando o Credo Niceno.
Culto
A pureza doutrinária era essencial, mas o culto expressava a vida da Igreja. Jesus disse: “vem a hora, e agora já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade” (João 4:23). Na Última Ceia, Ele instituiu a Eucaristia (Lucas 22:19-21), central no culto cristão desde a era apostólica, como confirmam a Didaquê, Inácio de Antioquia e Justino Mártir. A liturgia inicial incluía a leitura das Escrituras, pregação, hinos, orações, o beijo da paz e a Eucaristia, realizada pelo menos aos domingos (Atos 20:7).
O culto cristão tinha uma estrutura definida, nunca espontânea, com duas partes: a liturgia da palavra (hinos, Escrituras, pregação) e a liturgia dos fiéis (orações, paz, Eucaristia). Com o tempo, a liturgia amadureceu, incorporando hinos e um ciclo anual celebrando a vida de Cristo. Sacramentos como batismo, crismação, casamento, cura e ordenação marcavam momentos santos, vistos como mistérios da graça divina.
Governo
Os apóstolos lideraram a Igreja, com autoridade para pregar (Mateus 28:19-20) e perdoar pecados (João 20:23). Três ofícios emergiram:
- Bispo: Os apóstolos foram os primeiros bispos (Atos 1:20). Após sua morte, nomearam bispos para supervisionar igrejas locais, como descrito por Inácio de Antioquia (c. 70 d.C.).
Presbítero: Anciãos, chamados “padres”, pastoreavam comunidades, representando Cristo sem serem intermediários. - Diácono: Inicialmente, os apóstolos desempenhavam esse papel, mas sete diáconos foram escolhidos (Atos 6:1-7) para servir às necessidades materiais e litúrgicas.
A autoridade vinha do povo, que consentia à liderança (Hebreus 13:17). Os leigos, ativos na Igreja, contribuíam com dons espirituais (1 Coríntios 12:7). Até o final do primeiro milênio, a Igreja Ortodoxa mantinha doutrina, culto e governo uniformes.
Desentendimentos entre Ocidente e Oriente
No final do primeiro milênio, tensões surgiram entre Oriente e Ocidente, culminando no Grande Cisma de 1054, devido a duas questões principais:
O Papado
Pedro foi o líder dos apóstolos e primeiro bispo de Antioquia e Roma. Após sua morte, o bispo de Roma ganhou primazia de honra, mas igualdade entre bispos era a norma. No entanto, o Papa começou a reivindicar supremacia universal, rejeitada pelo Oriente, contribuindo para a separação da Igreja Romana da Ortodoxa.
O Credo
O Credo Niceno (381 d.C.) afirmava que o Espírito Santo “procede do Pai” (João 15:26). Em 589, um concílio em Toledo acrescentou “e do Filho” (filioque), contradizendo as Escrituras e o consenso eclesiástico. O Papa, motivado politicamente, adotou essa mudança, causando divisão. O filioque relegou o Espírito Santo a um papel inferior no Ocidente, afastando Roma da doutrina ortodoxa.
Em 1054, o Papa excomungou o Patriarca de Constantinopla, formalizando o cisma. A Igreja Romana se separou da Ortodoxia, e a divisão nunca foi superada.
Divisões Adicionais no Ocidente
Após 1054, o Ocidente enfrentou mais rupturas. Em 1517, Martinho Lutero lançou a Reforma Protestante, criticando práticas católicas. Excomungado em 1521, ele inspirou movimentos como os de Zwingli e Calvino, fragmentando a Igreja Romana. Na Inglaterra, Henrique VIII tornou-se chefe da Igreja Anglicana, gerando mais divisões. Protestantismo e Catolicismo, apesar de reterem elementos cristãos, não recuperaram a plenitude da Igreja do Novo Testamento.
A Igreja Ortodoxa Hoje
A Igreja Ortodoxa, fundada por Cristo, mantém a fé apostólica há quase 2.000 anos. Com 225 milhões de fiéis, é pouco conhecida no Ocidente, mas cresce, especialmente na América do Norte, onde imigrantes a trouxeram. Evangélicos e protestantes estão descobrindo a Ortodoxia por meio de escritos dos Pais da Igreja e testemunhos contemporâneos.
A Ortodoxia é a Igreja do Novo Testamento, Una, Santa, Católica e Apostólica, preservando doutrina, culto e governo inalterados. Para conhecê-la:
- Visite: Busque “Ortodoxo” em diretórios online, visite paróquias, conheça o padre e explore a liturgia.
- Leia: Livros como The Orthodox Church (Kallistos Ware), For the Life of the World (Alexander Schmemann) e Becoming Orthodox (Peter E. Gillquist).
- Escreva: Contate a Conciliar Press (P.O. Box 76, Ben Lomond, CA 95005-0076) para informações.
A Ortodoxia oferece a plenitude da fé cristã, convidando todos a “vir e ver” (João 1:46).